A produção de etanol nas usinas sucroenergéticas é uma peça fundamental no cenário brasileiro, mas o processo gera um desafio ambiental que a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) está ajudando a resolver. O resíduo conhecido como óleo fúsel, muitas vezes descartado pelas indústrias, agora pode ser transformado em um subproduto valioso e comercializável: o álcool isoamílico.
Essa tecnologia, licenciada para a empresa Newpro Engenharia com o apoio da Agência de Inovação Inova Unicamp, tem o potencial de revolucionar vários setores industriais e contribuir para a economia verde.
A transformação do subprodutos do etanol
No processo de produção de etanol, o mosto fermentado do caldo de cana-de-açúcar contém água, etanol e compostos minoritários, como os álcoois superiores. Esses últimos precisam ser removidos durante a destilação para garantir a pureza do etanol.
O que resta, conhecido como óleo fúsel, é geralmente um resíduo poluente de pouco valor agregado. Antes, grande parte desse resíduo era descartada pelas indústrias, gerando preocupações ambientais.
Segundo Eduardo Augusto Caldas Batista, professor da Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) da Unicamp e um dos inventores da tecnologia, “o resíduo que é gerado pode ser transformado em um produto com alto valor agregado e interesse para outras indústrias, que é o álcool isoamílico. Além disso, o sistema recupera o etanol que está solubilizado no óleo fúsel e que também é descartado, aumentando, mesmo que em baixa quantidade, a produção do etanol”.
Benefícios para diversos setores
Essa tecnologia integrada oferece benefícios para várias partes envolvidas no processo. Usinas sucroenergéticas podem comercializar o subproduto concentrado em álcool isoamílico a um valor consideravelmente maior do que o do óleo fúsel, ao mesmo tempo em que recuperam o etanol perdido no resíduo.
As indústrias compradoras do subproduto também se beneficiam com uma matéria-prima de qualidade, além de contribuir significativamente para a redução dos impactos ambientais, evitando o descarte inadequado desse resíduo.
Uma jornada de pesquisa e desenvolvimento
A linha de pesquisa que culminou nessa tecnologia começou em 2010 e continuou em 2012 com o projeto de doutorado de Magno José de Oliveira, orientado por Eduardo Batista.
Em 2022, a tecnologia foi licenciada para a NEWPRO Engenharia, que demonstrou interesse em comercializar o equipamento. O sistema é considerado barato, compacto e de fácil aplicação, bastando uma integração com o processo existente. Além disso, é uma solução sustentável que se alinha com práticas mais responsáveis.
O Mercado e a sustentabilidade ambiental
O Brasil é um grande produtor de etanol a partir da cana-de-açúcar e do milho, destacando-se com números impressionantes de produção. No entanto, a quantidade de óleo fúsel gerada como subproduto é motivo de preocupação em relação à quantidade de etanol produzido.
“Em termos ambientais, esse subproduto gerado é uma preocupação. Quando pensamos na utilidade do sistema, temos um forte mercado para escalar, com potencial de gerar ganhos econômicos e ainda ajudar o meio ambiente”, afirma Claudemir Ribeiro, sócio-fundador e engenheiro de processo da NEWPRO.
Resíduos do etanol contribuirão para práticas mais sustentáveis
Com a tecnologia da Unicamp, a economia verde ganha um novo capítulo. O aproveitamento dos resíduos do etanol não apenas gera ativos valiosos, mas também contribui para práticas mais sustentáveis.
A NEWPRO Engenharia planeja entrar no mercado nacional, inicialmente focando nas usinas sucroenergéticas. Posteriormente, as indústrias químicas de produção de tintas, plastificantes, perfumaria e alimentos também poderão se beneficiar desse subproduto transformado.
O compromisso da Unicamp com a inovação e a sustentabilidade está impulsionando a economia verde e oferecendo soluções para desafios ambientais, como a transformação de resíduos em ativos valiosos.