Na segunda-feira, dia 17, marcou um passo significativo para a energia sustentável no Brasil. Foi no Paraná o local em que foi produzida a primeira planta piloto do país dedicada à produção de combustível sustentável a partir de biogás. Esta iniciativa, com foco na produção de petróleo sintético de aviação (Sustainable Aviation Fuel — SAF), representa uma colaboração internacional e um avanço notável no setor de energias renováveis.
Parceria internacional e investimento
O desenvolvimento desta planta é resultado de uma parceria entre várias entidades brasileiras e alemãs. A Cooperação Brasil-Alemanha para o Desenvolvimento Sustentável, o Centro Internacional de Energias Renováveis (CIBiogás), a Universidade Federal do Paraná (UFPR), a Fundação Araucária, o Parque Tecnológico Itaipu (PTI) e a Itaipu Binacional uniram esforços para tornar este projeto uma realidade.
O investimento de R$ 10 milhões foi financiado pelo governo alemão, através do Ministério Federal da Cooperação Econômica e Desenvolvimento da Alemanha (BMZ). Este apoio financeiro destaca o compromisso internacional com o desenvolvimento de tecnologias sustentáveis e a redução da dependência de combustíveis fósseis tradicionais.
Localização e produção do petróleo sintético
A planta está instalada nas dependências da Itaipu Binacional e possui a capacidade de produzir 6 kg/dia de biosyncrude. O biosyncrude é uma mescla sintetizada a partir de biogás e hidrogênio verde, composta por hidrocarbonetos. Este material é essencial para a produção de SAF, um combustível que promete reduzir significativamente as emissões de gases de efeito estufa no setor de aviação.
Para a produção de biosyncrude, a planta utilizará até 50 Nm³/dia de biogás proveniente da unidade de biodigestão da Itaipu Binacional (UD Itaipu). Além disso, serão empregados 53 Nm³/dia de hidrogênio verde, produzido pelo Núcleo de Pesquisa em Hidrogênio (NUPHI) do Parque Tecnológico Itaipu (PTI). Esta combinação de biogás e hidrogênio verde exemplifica o uso de fontes renováveis e limpas de energia.
Processamento e refinamento do petróleo sintético
Após a produção, o biosyncrude será enviado para o Laboratório de Cinética e Termodinâmica Aplicada (LACTA) da UFPR, localizado em Curitiba/PR. Lá, ele passará por processos de caracterização e refino para a obtenção de SAF. Esse procedimento é essencial para garantir que o combustível produzido atenda aos rigorosos padrões de qualidade exigidos pela indústria de aviação.
Além disso, o Laboratório de Materiais e Energias Renováveis (LABMATER) da UFPR, em Palotina/PR, desempenhou um papel crucial no desenvolvimento da planta piloto. Os estudos sobre o processo de reforma a seco do biogás e o desenvolvimento dos catalisadores utilizados são resultados de pesquisas realizadas por este laboratório. Esses catalisadores são fundamentais para a eficiência e viabilidade econômica do processo de produção de petróleo sintético.
Potencial de produção e mapeamento
Foi criado um mapa dinâmico para identificar as áreas com maior potencial de produção de SAF no Paraná, no que se refere à união entre os países Brasil e Alemanha e o CIBiogás. Este mapa destaca as regiões mais promissoras para a produção de bioquerosene de aviação a partir do biogás. Segundo o diretor presidente do CIBiogás, Rafael Hernando de Aguiar Gonzalez, o Paraná apresenta um potencial de produção de 15 mil metros cúbicos por ano de SAF.
Este volume, embora pareça modesto, corresponde a aproximadamente 4% do fornecimento total de querosene de aviação na região sul do Brasil em 2023. A criação deste mapa é um passo estratégico para expandir a produção de SAF e integrar ainda mais o biogás na matriz energética do país.
Impacto e futuro da planta
A inauguração desta planta piloto não é apenas um marco tecnológico, mas também um avanço significativo na direção de uma economia mais sustentável. A produção de petróleo sintético a partir de biogás representa uma alternativa viável e ecológica aos combustíveis fósseis tradicionais. Com o apoio contínuo de parcerias internacionais e o investimento em pesquisa e desenvolvimento, o Brasil está se posicionando como um líder na produção de combustíveis sustentáveis.
Além disso, a planta serve como um modelo para futuras iniciativas, demonstrando a viabilidade econômica e ambiental da produção de petróleo sintético a partir de fontes renováveis. O sucesso desta planta piloto poderá inspirar a construção de unidades semelhantes em outras regiões do Brasil e do mundo, contribuindo para a redução global das emissões de carbono e o combate às mudanças climáticas.
A iniciativa também destaca a importância da cooperação internacional no desenvolvimento de tecnologias inovadoras e sustentáveis. A colaboração entre o Brasil e a Alemanha exemplifica como a união de esforços pode resultar em avanços significativos para a humanidade.
Com a primeira planta de petróleo sintético a partir de biogás em operação, o Brasil dá um passo importante rumo a um futuro mais verde e sustentável. Este projeto não só contribuirá para a redução das emissões de gases de efeito estufa, mas também promoverá o desenvolvimento econômico e tecnológico do país.