Considerada a maior produtora de açúcar e etanol do Brasil, a Raízen acaba de dar mais um importante passo em direção à inovação sustentável. A empresa, controlada pelo grupo Cosan em parceria com a petroleira anglo-holandesa Shell, obteve um financiamento de R$ 1 bilhão do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para impulsionar a construção de usinas de etanol de segunda geração (E2G). Este tipo de biocombustível, fabricado a partir de resíduos da cana-de-açúcar e outras biomassas, é visto como uma solução estratégica para aumentar a produção nacional de combustíveis renováveis e reduzir as emissões de gases de efeito estufa.
O papel do BNDES no avanço tecnológico
O empréstimo será dividido igualmente entre duas linhas de crédito criadas pelo banco em 2023: o BNDES Mais Inovação e o Fundo Clima. Ambas oferecem taxas de juros mais baixas do que as praticadas no mercado, o que reflete o esforço da gestão de Aloizio Mercadante, presidente do BNDES, em fomentar investimentos em tecnologias inovadoras e projetos que promovam a descarbonização.
Segundo Mercadante, as novas unidades de E2G não apenas expandem as fronteiras tecnológicas brasileiras, mas também atraem investimentos para toda a cadeia produtiva, envolvendo fornecedores de insumos, máquinas e equipamentos. “O banco dispõe dos instrumentos fundamentais, como o Fundo Clima, que apoia projetos que visam a descarbonização, com apoio à produção de biocombustíveis, e o Mais Inovação, que impulsiona o desenvolvimento de tecnologias disruptivas e que agreguem valor à produção nacional”, destacou o presidente do banco em nota oficial.
Etanol de segunda geração
O etanol de segunda geração é produzido a partir da celulose encontrada em materiais como palha de cana, madeira e outras plantas, que normalmente seriam descartados. Combinado ao etanol de primeira geração, ele tem o potencial de ampliar significativamente a produção de biocombustíveis no Brasil. De acordo com estimativas do Laboratório Nacional de Biorrenováveis (LNBR), a adoção generalizada da tecnologia E2G pode aumentar a produção nacional de etanol em até 50%.
Apesar do potencial, o desenvolvimento comercial do E2G ainda enfrenta desafios. O custo elevado da tecnologia, especialmente em relação às enzimas necessárias para quebrar a celulose, torna o processo de produção caro e financeiramente inviável em muitos casos. Cada usina de E2G da Raízen demanda investimentos superiores a R$ 1 bilhão.
O financiamento do BNDES será direcionado à construção de uma usina de E2G em Andradina, no interior de São Paulo, com custo total estimado em R$ 1,4 bilhão. As obras foram iniciadas em 2023 e estão atualmente 25% concluídas, com previsão de término para 2028. A nova unidade terá capacidade de produzir 82 milhões de litros de etanol por ano, seguindo o modelo das outras usinas da companhia.
Atualmente, a Raízen possui duas usinas de E2G em operação, localizadas em Piracicaba e Guariba, ambas no estado de São Paulo. Outras duas unidades estão em fase final de construção, reforçando a liderança da empresa nesse segmento de mercado. No terceiro trimestre de 2024, a Raízen produziu 15 milhões de litros de E2G, um aumento de 74% em comparação ao mesmo período de 2023. Toda essa produção foi destinada à exportação, atendendo à crescente demanda internacional por combustíveis renováveis.
O futuro do etanol de segunda geração da Raízen
Embora a Raízen tenha reduzido o ritmo de seus investimentos em novas usinas de E2G, ajustando seu planejamento ao atual cenário macroeconômico, a empresa continua sendo pioneira na exploração dessa tecnologia no Brasil. Até 2030, a companhia espera ter nove usinas de E2G em operação, com cinco delas previstas para estarem prontas até 2027.
Essa moderação nos planos reflete o aumento das taxas de juros e a volatilidade cambial, mas também demonstra o compromisso da Raízen em consolidar a viabilidade comercial do E2G. A demanda pelo biocombustível é fortalecida, em parte, pela participação da Shell, que busca atender às rigorosas regulações ambientais da União Europeia.