Home ÓLEO E GÁS Petrobras busca licença para explorar petróleo na Foz do Amazonas, mas alertas de vazamentos gera polêmica

Petrobras busca licença para explorar petróleo na Foz do Amazonas, mas alertas de vazamentos gera polêmica

A Petrobras insiste na obtenção da licença, gerando pressões políticas, especialmente por parte do Ministério de Minas e Energia, visando iniciar a exploração em 2024.

by Andriely Medeiros
A Petrobras insiste na obtenção da licença, gerando pressões políticas, especialmente por parte do Ministério de Minas e Energia, visando iniciar a exploração em 2024.

A Petrobras enfrenta desafios na busca pela licença de exploração de petróleo na bacia Foz do Amazonas, conforme revelam documentos do processo de licenciamento. O empreendimento suscita preocupações quanto aos possíveis impactos ambientais, especialmente em relação a vazamentos de óleo que poderiam atingir oito países e dois territórios franceses. O desbloqueio da licença tornou-se um ponto central de discussão, envolvendo a empresa estatal brasileira, autoridades locais e órgãos ambientais.

Riscos Internacionais: Documentos revelam possibilidade de impacto em 8 países e territórios franceses

O cerne da controvérsia está na possibilidade de vazamentos de óleo afetarem não apenas o território brasileiro, mas também atingirem Barbados, Granada, Guiana, Santa Lúcia, São Vicente e Granadinas, Suriname, Trinidad e Tobago, e Venezuela, bem como os territórios franceses da Guiana Francesa e Martinica. A dispersão do óleo em direção às ilhas do Caribe é apontada pelas modelagens, mas estudos científicos contestam a alegação de que o litoral brasileiro permaneceria isento de impactos.

Desde 2013, o Ministério do Meio Ambiente e o Ibama destacam a necessidade de uma “intensa articulação dentro do Estado brasileiro e com os países potencialmente afetados pelos empreendimentos.” Um parecer de 2013 ressalta a importância de cooperação internacional para contingência a vazamentos, alertando que essa articulação pode afetar os prazos do licenciamento ambiental.

O Ministério Público Federal (MPF) no Amapá, em 2018, recomendou consulta prévia aos países potencialmente afetados. O Itamaraty, conforme a Procuradoria da República no Amapá, acatou a recomendação, mas a resposta sobre as ações do Ministério das Relações Exteriores permanece pendente.

Articulações da Petrobras: Reuniões e missões para preparar respostas transfronteiriças

A Petrobras, responsável pelo empreendimento, afirmou ter realizado reuniões com autoridades de Barbados, Guiana, Guiana Francesa, Suriname e Trinidad e Tobago em 2022 e 2023, com missões in loco neste último ano. A empresa busca preparar uma resposta transfronteiriça para possíveis incidentes com derramamento de óleo durante a campanha exploratória. No entanto, o Ibama, órgão licenciador, ressalta não ter participado dessas reuniões e destaca a necessidade de avaliação da eficácia das medidas apresentadas pela Petrobras.

Em maio, o presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho, negou a licença para a perfuração na Foz do Amazonas, apontando a falta de estudos comprobatórios sobre a ausência de impacto ambiental. A Petrobras insiste na obtenção da licença, gerando pressões políticas, especialmente por parte do Ministério de Minas e Energia, visando iniciar a exploração em 2024.

Impactos Ambientais na Foz do Amazonas

A região da Foz do Amazonas é destacada pelo Ibama como de alta sensibilidade ambiental desde 2014, com correntes marítimas fortes e movimentos de marés amplos. O Relatório de Impacto Ambiental (Rima) de 2017, elaborado pela BP Energy do Brasil antes da Petrobras assumir o projeto, destaca recifes de grande importância ecológica, econômica e social, alertando sobre a sensibilidade de mamíferos, tartarugas, peixes, aves e atividade pesqueira artesanal.

A complexa balança entre exploração e proteção ambiental

A Petrobras enfatiza que as modelagens realizadas em 2015 e 2022, aprovadas pelo Ibama, indicam uma probabilidade remotíssima de toque de óleo na costa brasileira. A empresa alega ter contratado uma empresa de renome internacional, que utilizou sistemas modernos para as projeções de dispersão de óleo no mar. No entanto, o Ibama ressalta que as bases e modelos hidrodinâmicos evoluíram ao longo do processo de licenciamento, reconhecendo margens de erro e limitações nas ferramentas utilizadas.

O impasse entre a busca pela exploração de petróleo na Foz do Amazonas e as preocupações ambientais e internacionais destaca a complexidade do processo de licenciamento, demandando uma cuidadosa análise de todos os envolvidos e uma avaliação minuciosa dos potenciais impactos ambientais e a eficácia das medidas de contingência propostas pela Petrobras.

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