Nos últimos 300 anos, o desenvolvimento econômico global foi impulsionado principalmente pelo uso de fontes de energia como carvão e petróleo. Essas fontes foram fundamentais para as duas primeiras revoluções industriais, permitindo uma rápida industrialização e automação. No entanto, a dependência desses combustíveis fósseis trouxe consigo desafios significativos, especialmente no que diz respeito à sustentabilidade e impacto ambiental. Nesse cenário, o hidrogênio surge como uma alternativa mais limpa e eficiente para combustíveis.
A transição energética e o papel do hidrogênio
Com o aumento das preocupações ambientais, a necessidade de alternativas sustentáveis para as fontes de energia tradicionais tornou-se evidente. A transição energética é uma estratégia que busca substituir os combustíveis fósseis por fontes renováveis, e o hidrogênio se destaca como uma solução promissora nesse cenário. O hidrogênio, um elemento conhecido desde as aulas de química, está ganhando importância como vetor energético limpo.
Existem diferentes métodos para produzir hidrogênio, cada um com suas vantagens e desvantagens. A reforma do gás natural é atualmente o método mais econômico, mas gera emissões de poluentes. Em contraste, a eletrólise, que utiliza eletricidade para separar o hidrogênio e o oxigênio da água, oferece uma alternativa mais limpa. Esta abordagem é particularmente eficiente quando a eletricidade é gerada a partir de fontes renováveis.
Atualmente, o hidrogênio é essencial em diversas indústrias, incluindo a fabricação de fertilizantes e o refino de petróleo. Contudo, há uma crescente demanda por métodos de produção mais limpos. Embora a eletrólise seja mais cara do que a produção a partir de gás natural, sua capacidade de oferecer uma solução sustentável torna-a fundamental para atender às exigências ambientais e combater as mudanças climáticas.
A evolução da utilização do hidrogênio
A popularidade do combustível ganhou um impulso significativo devido ao recente conflito entre Rússia e Ucrânia. Esse evento fez com que a Europa acelerasse a busca por alternativas aos combustíveis russos, sem comprometer seus objetivos de descarbonização. O investimento em hidrogênio limpo e renovável aumentou, com a Comissão Europeia e os Estados Unidos liderando iniciativas para financiar projetos nesse setor.
Nos Estados Unidos, dois importantes marcos legislativos têm apoiado o desenvolvimento do hidrogênio: o Infrastructure Investment and Jobs Act (IIJA) e o Inflation Reduction Act (IRA). Juntos, esses atos alocaram US$ 370 bilhões para projetos de energia limpa, incluindo o hidrogênio de baixo carbono. Esses investimentos são voltados para a produção de hidrogênio limpo, contrastando com as altas emissões associadas à produção tradicional via gás natural.
O Brasil está se posicionando para se beneficiar do crescimento desse setor. A legislação nacional, incluindo a CNPE 2/2021 e a CNPE 6/2022, tem priorizado o hidrogênio em suas estratégias de pesquisa, desenvolvimento e inovação. Além disso, projetos de lei como o PL 725/22 buscam regulamentar e integrar o hidrogênio na matriz energética nacional.
Esforços em pesquisa e desenvolvimento
O Brasil tem avançado significativamente em pesquisa e desenvolvimento de hidrogênio. Universidades e centros de pesquisa têm se dedicado ao estudo do hidrogênio há décadas. Projetos piloto estão sendo implementados em várias regiões, especialmente no Nordeste, onde a viabilidade econômica e ambiental está sendo explorada. A Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) também deu passos importantes ao lançar uma certificação para a produção de hidrogênio, o que pode estimular a indústria nacional.
O potencial exportador do Brasil
Além de atender à demanda interna, o Brasil tem o potencial de se tornar um importante exportador desse combustível. Países como Japão e diversas nações europeias estão demandando hidrogênio de baixo carbono, e o Brasil pode se posicionar como um fornecedor crucial. Apesar dos desafios relacionados à distância e aos custos de transporte, o desenvolvimento de soluções logísticas eficientes pode facilitar essa transformação e ajudar o Brasil a aproveitar seu potencial exportador.
Além dos esforços nacionais, o Brasil está investindo em infraestrutura para suportar a produção e exportação de hidrogênio. A construção de usinas dedicadas à eletrólise e a implementação de redes de distribuição são passos essenciais para criar uma cadeia produtiva eficiente.
O governo e o setor privado estão colaborando para desenvolver tecnologias que reduzam os custos de produção e transporte, garantindo que o hidrogênio brasileiro possa competir no mercado internacional. Essas iniciativas não apenas fortalecem a posição do Brasil como um jogador chave no mercado global desse combustível, mas também contribuem para a diversificação de sua matriz energética e para o cumprimento de metas climáticas nacionais e internacionais.