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Brasil pode se destacar na exportação de hidrogênio verde para a Europa, aponta estudo

O Brasil, com vasta capacidade de energia renovável, pode exportar hidrogênio verde para a Europa, atendendo aos rígidos critérios de emissões.

by Andriely Medeiros
O Brasil, com vasta capacidade de energia renovável, pode exportar hidrogênio verde para a Europa, atendendo aos rígidos critérios de emissões.

O Brasil, com sua vasta capacidade de produção de energia renovável, está posicionado para se tornar um grande exportador de hidrogênio verde para a Europa, de acordo com um estudo recente da consultoria britânica Aurora Energy Research. Apesar de a definição brasileira de hidrogênio “baixo carbono” ser mais flexível do que a europeia, o país tem o potencial de atender aos rigorosos critérios de emissão de carbono da UE, tornando-se um competidor forte no mercado internacional de hidrogênio.

Capacidade do Brasil em produzir hidrogênio verde abaixo dos limites de emissão da União Europeia

Segundo a analista Inês Gaspar, da Aurora Energy Research, o Brasil está bem posicionado para exportar hidrogênio verde com baixos índices de emissão de carbono, especialmente nas regiões Norte e Nordeste. Essas áreas são destacadas no estudo como potenciais produtoras de hidrogênio verde devido ao seu grid elétrico altamente renovável — cerca de 90% da energia gerada é de fontes renováveis. Isso significa que a produção de hidrogênio conectada à rede nessas regiões poderia facilmente cumprir os critérios europeus de emissão, que estabelecem um limite de 3,4 kg CO2eq/kg H2.

“Se olharmos para o Nordeste e para o Norte, vemos que a intensidade de produção de hidrogênio aqui ficaria em torno de 0,6 kgCO2eq/kgH2,” afirma Gaspar. “Como o limite da Europa é de 3,4 kg CO2eq/kg H2, conseguimos um espaço de 3 ou 2,5 de emissões que podem ser aproveitados ao longo da cadeia e do ciclo de vida.”

Além do Nordeste e Norte, as regiões Sudeste e Sul do Brasil também apresentam potencial, apesar de uma maior participação de fontes fósseis na matriz elétrica. Mesmo nesses locais, a emissão de carbono na produção de hidrogênio ainda ficaria abaixo dos limites europeus, com a possibilidade de incorporar mais fontes de energia renovável para melhorar ainda mais o perfil de emissão.

Baixo teor de carbono e preço acessível mesmo com custos de transporte

O estudo da Aurora Energy Research destaca que o hidrogênio brasileiro possui vantagens competitivas significativas, além do baixo teor de carbono. Um dos principais atrativos é o preço. Mesmo considerando os custos de transporte, conversão e reconversão, o hidrogênio produzido no Nordeste do Brasil seria competitivo no mercado europeu.

“O hidrogênio do Brasil, produzido no Nordeste, seria competitivo mesmo com os custos de transporte e recondicionamento,” diz Gaspar. Ela estima que o custo do hidrogênio verde produzido na região estaria em torno de quatro euros por quilo. Ana Barilla, diretora da Aurora, complementa que, mesmo com os modelos de negócios mais caros e os custos de exportação, o Brasil ainda se destaca como um forte candidato na competição pelas importações europeias.

Potencial para gerar milhões de toneladas

Rodrigo Longo, outro analista da Aurora, destaca os fatores de carga excepcionais para geração eólica e solar no Nordeste brasileiro. A média de 45% para a eólica onshore e cerca de 25% para a solar são indicadores de um enorme potencial de produção de hidrogênio verde. Longo ressalta a importância de um modelo de produção conectado à rede, que poderia utilizar energia renovável que atualmente é desperdiçada em momentos de alta carga no sistema.

“Somente essa energia ‘desperdiçada’, especialmente no Nordeste, poderia gerar cerca de 12 milhões de toneladas de hidrogênio renovável entre 2030 e 2060,” explica Longo. Para contextualizar, a demanda total de hidrogênio na Europa em 2022 foi de cerca de 8,2 milhões de toneladas.

O estudo da Aurora também prevê um crescimento substancial na capacidade instalada de energia solar e eólica no Brasil até 2060, com uma expectativa de 271 gigawatts adicionais. Este aumento é fundamental para sustentar a produção de hidrogênio verde em larga escala. “Esperamos que 271 gigawatts de energia eólica e solar entrem em operação entre 2024 e 2060. Isso é fundamental para a produção de hidrogênio”, conclui Longo.

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