As demissões em massa no setor de tecnologia vêm sendo destaque ao longo de 2024, com empresas ao redor do mundo reduzindo suas equipes e causando uma queda nas vagas de emprego disponíveis no setor. Entre as principais causas estão a recessão global, o avanço da inteligência artificial (IA) e mudanças estruturais pós-pandemia. Mas como essas mudanças estão afetando o mercado brasileiro de tecnologia?
Cenário internacional de demissões no cenário de tecnologia
Até outubro de 2024, mais de 139 mil empregos foram cortados em 457 empresas internacionais de tecnologia, segundo dados da plataforma Layoffs.fyi. Empresas como Tesla, Amazon, Google e Microsoft anunciaram cortes expressivos ao longo do ano. A Cisco Systems, por exemplo, eliminou 7% de sua equipe, e a Intel cortou cerca de 15 mil empregos globalmente.
As razões por trás dessas demissões são diversas. A inflação e as altas taxas de juros vêm impactando o custo de crédito e restringindo investimentos. Nos Estados Unidos, as empresas de tecnologia, que se beneficiaram de um ambiente de taxas de juros baixas, agora estão focando em pagar dívidas, levando a cortes de custos, incluindo demissões.
Outro fator importante é a preparação para uma possível recessão global. Questões geopolíticas, como o conflito na Ucrânia e as tensões no Oriente Médio, também agravam a incerteza econômica, o que pressiona ainda mais o setor de tecnologia.
O papel da inteligência artificial
A inteligência artificial tem se destacado como um dos principais fatores de transformação no mercado de trabalho. Muitas empresas estão substituindo trabalhadores por soluções de IA, o que gera novas demissões. Um estudo da ResumeBuilder revelou que cerca de 40% dos líderes empresariais planejam substituir funções por IA em 2024.
Empresas como IBM e Google já adotaram a automação em larga escala. A IBM, por exemplo, demitiu 3,9 mil funcionários em setores como marketing e comunicação, congelando contratações para cargos que podem ser automatizados. A substituição de trabalhadores por IA é uma tendência que vem ganhando força e reconfigurando o mercado de tecnologia.
O impacto dos cortes das vagas de tecnologia no Brasil
O mercado de tecnologia no Brasil não é imune a essas tendências globais. Nos últimos anos, o país experimentou um crescimento acelerado no setor, impulsionado pela digitalização dos negócios e pelo aumento do e-commerce durante a pandemia. No entanto, o cenário atual de ajustes globais também afeta as empresas brasileiras, que agora buscam otimizar suas operações e rever suas equipes.
Especialistas destacam que, embora o Brasil não tenha vivido cortes de empregos em massa no setor de tecnologia, como visto em outros países, há uma tendência de desaceleração nas contratações. Empresas brasileiras estão se ajustando à nova realidade, buscando maior produtividade e eficiência, o que pode resultar na redução de vagas de emprego no curto prazo.
De acordo com Adriano Almeida, COO da Alura para Empresas, essa desaceleração não representa uma retração, mas sim uma estabilização saudável após o crescimento acelerado observado nos últimos anos. Ele afirma que as empresas continuam demandando profissionais qualificados, mas de forma mais seletiva.
Perspectivas e oportunidades no Brasil
Outro fenômeno que afeta o mercado de tecnologia é a crescente terceirização de serviços para países como o Brasil. Empresas estrangeiras buscam mão de obra qualificada a custos mais baixos, o que acaba gerando novas oportunidades de emprego no país. A terceirização pode ser uma solução para compensar a perda de vagas em empresas brasileiras, mas também aumenta a competitividade por empregos.
Apesar das demissões e ajustes, o setor de tecnologia no Brasil ainda apresenta muitas oportunidades. Áreas como computação em nuvem, cibersegurança e inteligência artificial continuam em crescimento, e a demanda por profissionais especializados permanece alta.
Empresas que contrataram de forma excessiva durante a pandemia agora buscam equilibrar suas equipes, o que pode levar a uma pausa nas contratações, mas não indica uma retração completa. Segundo Ana Letícia Lucca, CRO da Escola da Nuvem, a desaceleração no Brasil é menos severa que no exterior, e setores emergentes ainda estão em expansão.