Em um esforço inovador para transformar a indústria naval, três das maiores transportadoras do mundo anunciaram um acordo para desenvolver navios de carga com energia nuclear. A parceria envolve o Lloyd’s Register, a Core Power e a AP Moller — Maersk, que se uniram para conduzir um estudo de avaliação regulatória sobre o uso de energia nuclear em navios porta-contêineres. O objetivo é melhorar a eficiência e reduzir as emissões de gases de efeito estufa no setor de transporte marítimo, que atualmente é responsável por cerca de 3% das emissões globais de carbono.
Estudo para viabilizar energia nuclear em navios
O estudo conjunto explorará as considerações de segurança e regulamentação necessárias para a introdução de navios de carga com energia nuclear. Além disso, a iniciativa fornecerá insights para as empresas marítimas que estão avaliando a viabilidade da energia nuclear como uma solução para alcançar a meta de emissões líquidas zero até 2050, estipulada pela Organização Marítima Internacional (IMO).
Com a demanda crescente por soluções sustentáveis, a energia nuclear surge como uma alternativa promissora para reduzir a dependência de combustíveis fósseis no transporte marítimo. A indústria consome aproximadamente 350 milhões de toneladas de combustível por ano, contribuindo significativamente para o impacto ambiental do setor. O projeto visa não apenas reduzir as emissões, mas também criar uma cadeia de suprimentos mais eficiente e sustentável.
Inovação no projeto de transporte
O consórcio reúne a vasta experiência de três grandes players da indústria. O Lloyd’s Register, uma sociedade de classificação marítima, traz seu conhecimento técnico e regulatório para o desenvolvimento do projeto. A Core Power, especializada em tecnologia avançada de energia nuclear para uso marítimo, contribui com sua expertise em inovação energética. A Maersk, uma das maiores transportadoras globais, adiciona sua longa experiência em logística e transporte de contêineres.
Segundo Nick Brown, CEO do Lloyd’s Register, o estudo marca o início de uma jornada para desbloquear o potencial da energia nuclear na indústria marítima. Ele acredita que essa tecnologia pode ser uma peça-chave na descarbonização do setor, permitindo operações sem emissões e maior eficiência nas cadeias de suprimentos globais.
Desafios e oportunidades da energia nuclear
Embora o uso de energia nuclear no transporte marítimo seja promissor, ainda existem desafios significativos a serem superados. Questões de segurança, gerenciamento de resíduos nucleares e aceitação regulatória em diferentes regiões precisam ser abordadas para que a tecnologia se torne viável. No entanto, o potencial para eliminar as emissões de carbono e aumentar a eficiência operacional faz com que o esforço valha a pena.
A Core Power destaca que, para que a energia nuclear seja amplamente adotada, é fundamental estabelecer padrões de segurabilidade para usinas nucleares flutuantes e navios movidos a essa fonte de energia. Mikal Bøe, CEO da Core Power, enfatiza que o desenvolvimento de uma estrutura regulatória clara é crucial para o sucesso do projeto e para garantir a viabilidade comercial da propulsão nuclear.
Maersk e a transição para energia limpa já em andamento
A Maersk, que já está comprometida com a transição para energias limpas desde 2018, vê o projeto como uma possível solução para alcançar suas metas de descarbonização. Ole Graa Jakobsen, chefe de tecnologia de frota da Maersk, reconhece que a energia nuclear apresenta desafios, mas acredita que, com o avanço dos novos projetos de reatores de quarta geração, a tecnologia pode se tornar uma opção viável nos próximos 10 a 15 anos.
A empresa tem explorado diversas alternativas para reduzir suas emissões e está atenta a todas as soluções de baixa emissão. Em dezembro de 2023, o CEO da Maersk, Vincent Clerc, foi um dos líderes empresariais a assinar uma declaração conjunta na COP28, em Dubai, pedindo o fim da construção de novos navios movidos exclusivamente a combustíveis fósseis. Clerc reforçou o compromisso da Maersk com a transição verde no setor de transporte e logística, destacando a importância de regulamentações que incentivem o investimento em soluções sustentáveis.