Recentemente, um evento em São Paulo reuniu investidores ansiosos por novidades na área de infraestrutura. O destaque do encontro foi o anúncio bombástico da Azevedo & Travassos, um grupo de empresas de infraestrutura, que declarou a reentrada da A&T Petróleo no mercado. A grande surpresa foi a promessa de iniciar a exploração de óleo em terra (onshore) ainda este ano, mesmo em um cenário onde o mundo está buscando ampliar ao máximo a transição energética.
Em meio a um cenário global de crescente discussão sobre a transição energética e a redução do uso de combustíveis fósseis, Nelson Tanure, um influente acionista da Prio, expressou uma visão contrastante. Durante o evento, Tanure argumentou que o consumo de petróleo não está em decadência como muitos sugerem. Ele afirmou que nos próximos 30 a 50 anos, o petróleo e o gás ainda serão os pilares da economia global, apesar dos esforços para diversificar a matriz energética.
Enquanto diversos países concentram investimentos em projetos de economia verde e buscam reduzir sua dependência de combustíveis fósseis, empresas petroleiras no Brasil parecem estar inflando seus números de produção e lucro. A Prio, por exemplo, surpreendeu ao divulgar um aumento de 25% em seu lucro líquido no segundo trimestre deste ano em comparação ao mesmo período do ano anterior, mesmo diante de uma queda de 30% nos preços internacionais do petróleo Brent.
Apesar da redução no preço do barril afetar as receitas da Prio como exportadora, a empresa conseguiu compensar com um notável aumento em sua produtividade. Um dos destaques mais impressionantes do balanço de abril a junho foi o crescimento de 174% na produção média de petróleo em relação ao ano anterior.
A 3R Petroleum, uma “junior oil” que é uma petroleira independente de menor porte com ações negociadas em Bolsa, também apresentou números notáveis. No segundo trimestre, a empresa registrou um aumento de 152% na produção média de petróleo em comparação ao ano anterior, e seu lucro líquido saltou impressionantes 147%.
O vice-presidente da Shell no Brasil, Flavio Rodrigues, observou durante um evento no Rio de Janeiro, que o aumento da produção de petróleo no país é uma tendência. De acordo com ele, o Brasil está entre os oito países mais cruciais para as operações da Shell, contribuindo com 400 mil barris de petróleo por dia, enquanto a produção global da companhia é de 1,4 milhão de barris.
A Shell, uma das maiores petrolíferas globais, ilustra bem a dualidade entre a busca por energias renováveis e a exploração contínua de petróleo. A empresa já havia planejado uma redução anual na produção de petróleo em prol de investimentos em fontes renováveis, mas essa estratégia foi revertida e a produção de óleo agora é mantida, até com possibilidade de aumento.
Rodrigues salientou que a empresa está de fato explorando oportunidades nas energias renováveis, especialmente considerando o enorme potencial eólico e solar do Brasil. No entanto, ele frisou que o petróleo e o gás ainda dominam o cenário de investimentos da Shell.
“Dizer que a coisa vai mudar de um dia para o outro, não é assim. Mas nós vamos transicionando ao longo do tempo”, ponderou Flávio. A Shell está atualmente envolvida em 17 projetos de produção de óleo e gás nas bacias de Campos e Santos, muitos deles em parceria com a Petrobras. A empresa planeja integrar três novas plataformas em sua operação local até 2030.
David Zylbersztajn, ex-diretor-geral da ANP (Agência Nacional do Petróleo), argumentou que a história do desenvolvimento das matrizes energéticas limpas no Brasil esteve intrinsecamente ligada à evolução do setor de óleo e gás. Para ele, o aumento na produção de petróleo não invalida a transição energética no país.
“O Brasil já transitou energeticamente. O Brasil é um país cuja transição energética de alguma maneira já ocorreu. E agora a gente precisa saber como aperfeiçoar essa transição energética”, destacou Zylbersztajn durante o evento que anunciou o retorno da Azevedo & Travassos Petróleo ao mercado.
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