A Petrobras está em vias de concretizar a recompra da Refinaria de Mataripe, localizada na Bahia, após avançar significativamente nas negociações com o fundo Mubadala, controlador da Acelen, atual proprietária da unidade. Esta movimentação marca um retorno estratégico ao modelo de gestão adotado em governos petistas anteriores, distanciando-se das políticas de privatização implementadas durante as presidências de Michel Temer e Jair Bolsonaro.
Em 2021, a Petrobras vendeu a Refinaria de Mataripe por US$ 1,65 bilhão para a Acelen, como parte de um acordo com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) para reduzir seu monopólio no setor de refino. No entanto, com a nova administração federal sob o governo Lula, a estatal brasileira tem se reposicionado para retomar ativos estratégicos, alinhando-se com uma abordagem mais estatal na gestão de recursos energéticos.
Fontes próximas às negociações indicam que a Petrobras deve recomprar integralmente a Refinaria de Mataripe. Esse movimento é respaldado pela disposição da Acelen em vender a operação com petróleo e participar como sócia em um projeto de energia renovável, que seria iniciado do zero. O levantamento de informações para a formalização do negócio já foi concluído pela Petrobras, o que indica um avanço significativo nas tratativas.
Apesar do progresso, a Petrobras declarou que ainda não tomou uma decisão final sobre a recompra. O fundo Mubadala, por sua vez, não comentou sobre as negociações.
Desde a posse do presidente Lula, a Petrobras tem mostrado uma clara mudança de direção. Em dezembro passado, a estatal cancelou a venda da Lubrificantes e Derivados de Petróleo do Nordeste (Lubnor), alegando que algumas condições precedentes para a transferência não foram concluídas. Além disso, a Petrobras abandonou o plano de privatização de refinarias, mantendo cinco unidades que estavam no plano de venda desde 2019.
Uma possibilidade discutida nas negociações é que a Acelen mantenha uma participação minoritária, em torno de 20%, na Refinaria de Mataripe. Essa configuração poderia estabelecer um compromisso cruzado com uma nova unidade de biorrefino focada na produção de diesel verde e combustível de aviação sustentável (SAF). A operação utilizaria a macaúba, uma palmeira nativa brasileira, como matéria-prima.
Dentro da Petrobras, a questão da recompra da Refinaria de Mataripe ainda está em discussão na diretoria executiva. Uma proposta vinculante para a recompra é esperada para setembro, com a finalização do negócio prevista para 2025, dependendo da aprovação do conselho de administração. A próxima reunião do conselho, marcada para 26 de julho, ou a subsequente, em 8 de agosto, deve abordar os planos de recompra.
O presidente do conselho da Petrobras, Pietro Mendes, ainda não finalizou a pauta da reunião de 26 de julho, mas a evolução das negociações deve estar alinhada com os prazos estabelecidos pela gestão anterior. O ex-presidente Jean Paul Prates havia mencionado que a companhia teria uma posição definida sobre o tema entre junho e julho deste ano.
Um ponto crucial das negociações é o preço a ser pago pela refinaria. Existe um consenso sobre a necessidade de uma avaliação justa, que considere as melhorias realizadas pela Acelen desde a aquisição. O valor de recompra, portanto, deve superar os US$ 1,65 bilhão pagos em 2021.
A refinaria de Mataripe, anteriormente conhecida como Rlam, foi uma das unidades vendidas pela Petrobras como parte de um esforço para reduzir seu monopólio. Após a venda de Mataripe, a Petrobras também se desfez de outras unidades menores, mas interrompeu a venda de grandes refinarias no Sul e Sudeste por motivos econômicos e, posteriormente, políticos.
Com a Acelen isolada no mercado nacional, a Petrobras aumentou a produção de diesel e gasolina, competindo diretamente com a Acelen no Nordeste. Esse aumento de produção foi facilitado pelo acesso a óleo bruto próprio, enquanto a Acelen precisa comprar ou importar óleo bruto a preços de mercado.
Esse cenário levou a Acelen a buscar uma sociedade ou revenda do ativo no final do ano passado, um movimento que agora pode resultar na recompra da Refinaria de Mataripe pela Petrobras.
A recompra da Refinaria de Mataripe pela Petrobras representa uma mudança significativa na estratégia da estatal e reflete a nova direção política e econômica do país sob o governo Lula. Se concretizado, o negócio deve fortalecer a posição da Petrobras no mercado de refino e realinhar a companhia com uma abordagem mais estatal na gestão dos recursos energéticos brasileiros.
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