Após anos de preocupações e riscos iminentes, o navio-tanque Safer, que está abandonado na costa do Iêmen desde 2015, finalmente começou a ser esvaziado. A embarcação, que contém mais de um milhão de barris de petróleo, é considerada uma “bomba-relógio” devido ao seu estado avançado de deterioração.
O Safer representa uma ameaça ambiental e humanitária significativa, com o potencial de um derramamento catastrófico que poderia superar o desastre do Exxon Valdez em 1989, no Alasca. Agora, uma equipe da ONU, financiada pelas Nações Unidas, está realizando uma delicada operação de bombeamento para transferir o petróleo do navio para uma embarcação de substituição.
Com seus 47 anos, o Safer foi originalmente projetado como uma plataforma flutuante de armazenamento de petróleo e está atracado no porto de Hodeida, no oeste do Iêmen, no Mar Vermelho. No entanto, devido à guerra civil que assola o país há oito anos, a embarcação foi abandonada.
Desde então, os sistemas essenciais para a sua manutenção, incluindo o bombeamento de gás inerte para seus tanques, pararam de funcionar, aumentando o risco de explosão. A ONU e o Greenpeace alertaram repetidamente sobre a gravidade da situação, descrevendo o navio como uma ameaça iminente à segurança marítima e ambiental.
Após anos de tentativas frustradas de inspecionar o navio deteriorado, a ONU finalmente obteve o consentimento dos rebeldes Huthi, que controlam grande parte do norte do Iêmen, incluindo o porto de Hodeida. Em março do ano passado, um memorando de entendimento foi assinado entre os Huthis e a ONU, estabelecendo uma estrutura de cooperação para viabilizar o projeto.
Após muitos obstáculos, incluindo a obtenção de cobertura de seguro para a operação, uma equipe de técnicos da empresa privada SMIT Salvage iniciou as inspeções em maio deste ano.
A magnitude das consequências em caso de derramamento dos barris de petróleo armazenados no Safer é alarmante. A ONU estima que os custos de limpeza poderiam chegar a US$ 20 bilhões, além de causar um impacto ambiental devastador.
Comunidades pesqueiras na costa do Mar Vermelho no Iêmen, onde 200.000 pessoas dependem diretamente dos recursos marinhos, seriam instantaneamente afetadas, perdendo seus meios de subsistência. Usinas de dessalinização na região poderiam ser fechadas, privando as pessoas de acesso à água potável.
Os portos de Hodeidah e Saleef, fundamentais para a entrada de alimentos, combustível e outros suprimentos vitais no país, também seriam impactados.
O derramamento de petróleo do Safer também teria consequências significativas para a região. Países vizinhos, como a Arábia Saudita, Eritréia, Djibuti e Somália, seriam afetados, assim como o tráfego marítimo através do Estreito de Bab al-Mandab para o Canal de Suez, uma rota crucial para o transporte de mercadorias para o Mediterrâneo. A ONU alertou que a interrupção dessa rota custaria bilhões de dólares por dia.
Apesar do início do esvaziamento do Safer, os desafios ainda persistem. Mesmo após a transferência do petróleo, a ONU ressalta que o navio em decomposição ainda representa uma ameaça ambiental, retendo resíduos de óleo viscoso e permanecendo em risco de desintegração.
A quantidade de borra de óleo restante nos tanques será avaliada e tratada posteriormente. O objetivo final é desativar completamente o Safer e reciclar suas peças. Enquanto isso, a embarcação de substituição, chamada Nautica, permanecerá na área, aguardando a resolução das negociações sobre o controle do navio e dos barris de petróleo.
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