A matriz energética do Brasil vivencia um novo tempo. Há um novo perfil com a consolidação das fontes renováveis, principalmente, com a fonte solar fotovoltaica. E a transição energética traz novos desafios para o setor com oportunidades de investimento e de expansão em diversas áreas. Esse foi o tom do debate que reuniu especialistas e encerrou a primeira edição do Intersolar Summit Brasil Sul, principal evento de energia solar da América Latina, que ocorreu nos dias 7 e 8 de novembro, no Centro de Eventos Fiergs, em Porto Alegre.
Ao longo dos dois dias do evento, entre feira, congresso e minicursos, mais de 2 mil visitantes circularam pelos estandes e assistiram apresentações com dados e análises relevantes sobre a situação brasileira, perspectivas para os negócios, o futuro no âmbito de novas soluções tecnológicas e também relacionadas aos desafios da regulamentação e da tributação.
No total da feira, 51 expositores, representantes de indústrias, distribuidores, integradores, serviços e atividades acadêmicas apresentaram lançamentos e novidades. Com o sucesso do encontro regional, o diretor-geral da Solar Promotion International, Florian Wessendorf, juntamente com a Aranda Eventos e Congressos, já confirmou a realização da edição 2024 para os dias 29 e 30 de outubro, em Porto Alegre.
“Estamos muito satisfeitos com o lançamento do Intersolar Summit Brasil Sul em Porto Alegre. Expositores, visitantes e participantes da conferência nos deram um feedback muito positivo. A edição regional se enquadra perfeitamente na nossa estratégia de conectar a indústria de energia solar e renovável na América Latina”, declarou ele.
No painel que encerrou o congresso, foram apontados os dados da expansão do consumo de energia no Brasil e, principalmente, a impressionante capacidade da geração nacional, suas transformações a partir das novas tecnologias e as oportunidades em diversas partes de uma cadeia produtiva intensa e necessária.
“O crescimento médio anual do consumo de energia elétrica no país deve ser de 3,2% ao ano, com uma projeção de 37% de aumento nos próximos 10 anos”, afirmou Marcio Takata, CEO da Greener, empresa especializada em inteligência de mercado com foco na transição energética. Para dar conta dessa demanda galopante, será necessário o uso de fontes de geração de energia renováveis que estão, hoje, mais acessíveis.
Impactante, a apresentação do CEO da Greener mostrou que, em janeiro de 2022, 22% da matriz energética brasileira era suprida por geração variável, composta de fontes renováveis, como a energia solar e a eólica. Em 2024, esse patamar já deve chegar a 28%, com uma estimativa de alcançar 33% de participação em 10 anos, apenas com base nos projetos já autorizados, contratados ou em construção.
No entanto, esse aumento da geração variável traz reflexos para toda a matriz energética. “Enquanto a geração hidroelétrica e a termelétrica são caracterizadas por fontes despacháveis, que podem ser reguladas conforme as exigências operacionais do sistema elétrico, a geração solar fotovoltaica e a eólica são de fontes não despacháveis. Ou seja, são fontes variáveis por natureza, que não permitem despachos programados”, compara Markus Vlasits, CEO da NewCharge.
Tecnicamente, a transição da matriz energética brasileira, com o incremento das fontes renováveis, faz com que o sistema passe de um modelo de alta inércia para um de baixa inércia. A alta inércia está relacionada aos geradores síncronos, como os existentes nas usinas hidroelétricas, garantindo uma maior estabilidade ao sistema. Já a baixa inércia, associada aos inversores utilizados nas usinas fotovoltaicas e eólicas, traz mais intermitência ao sistema.
O impacto dessa oscilação provocada pela energia solar fotovoltaica e eólica foi sentido no apagão que assolou o Brasil no dia 15 de agosto deste ano. O pico de energia representado pelos parques eólicos e pela energia solar, de Quixadá, em Fortaleza, no Ceará, iniciou às 8h31 e gerou uma interrupção de 16 mil MW de carga em todo o País.
O incidente emblemático representou um marco na transição energética brasileira. “Para o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), a culpa seria da energia solar e eólica, que não estariam de acordo com a realidade”, conta o professor José Marangon, diretor-presidente da MC&E. Para ele, entretanto, a solução para esse impasse é tecnológica.
“Não devemos retroceder e incrementar as usinas térmicas para dar mais estabilidade ao sistema, mas investir em inovação para dar aos inversores utilizados na energia solar e eólica a capacidade de resolver o problema e simular as máquinas síncronas. Com o uso desses inversores formadores de rede e de sistemas de armazenamento poderemos assegurar um maior controle de frequência e de inércia e um serviço com maior estabilidade”, indica Marangon.
Esse caminho depende de testes e da aprovação do ONS para garantir que a nova matriz energética brasileira continue aproveitando o potencial das energias renováveis, sem perda de qualidade. “Precisamos provar para o ONS que o nosso sistema de energia solar fotovoltaica pode fazer isso. Depois do apagão de 15 de agosto, o mundo quer saber o que aconteceu e o que a gente vai fazer a partir disso. Temos a oportunidade de encontrar uma solução e apresentá-la para o Brasil e para o mundo”, defende.
O Intersolar Summit Brasil Sul conta com as parcerias da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), Associação Brasileira de Geração Distribuída (ABGD), Instituto de Redes Inteligentes da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Câmara de Comércio Brasil Alemanha (AHK), Sebrae-RS, Senai-RS, Sindienergia-RS, Movimento Solar Livre, Greener, Instituto Nacional de Energia Limpa e NewCharge.
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