O impasse entre os governos do Brasil e do Paraguai sobre os valores da tarifa de energia da Usina Itaipu continua sem um consenso à vista. Essa discordância tem gerado uma crise diplomática que preocupa não apenas os países envolvidos, mas também os consumidores brasileiros, que podem enfrentar uma conta de luz mais cara caso a situação persista.
Governo paraguaio propõe reajuste de 24% para usina Itaipu
A Usina Itaipu, criada no âmbito do Tratado de Itaipu em 1973, possui um acordo que estabelece a divisão da energia produzida meio a meio entre Brasil e Paraguai. No entanto, o Paraguai utiliza apenas 17% da sua parte e vende o restante ao Brasil. Até 2023, o Brasil pagava apenas o preço de custo da energia, mas com o fim da dívida histórica pela construção, o Paraguai ganhou o direito de negociar o valor.
Atualmente, o Brasil paga US$ 16,71 por quilowatt, enquanto o governo paraguaio propõe um aumento para US$ 20,75 por quilowatt, representando um reajuste de 24%. Essa diferença de valores tem sido o ponto central das negociações entre as partes envolvidas.
Negociações entre Brasil e Paraguai sobre tarifas da Usina Itaipu
Segundo Roberto D’Araújo, engenheiro elétrico do Instituto Ilumina, a proposta paraguaia busca aumentar os recursos para investimento interno, enquanto o governo brasileiro busca negociar tarifas mais baixas após o pagamento da dívida de construção da usina.
Ele destacou que, embora o Paraguai argumente a necessidade de receita extra para seu desenvolvimento, as tarifas de energia lá são significativamente menores do que no Brasil, devido ao baixo consumo energético do país, que historicamente tem se beneficiado da energia da Usina Itaipu. Essa disparidade de preços levou várias indústrias brasileiras a se instalarem no Paraguai em busca de custos mais baixos, criando uma situação desafiadora para o Brasil.
Falta de consenso trava operações na usina Itaipu
Atualmente, o Brasil é o único comprador da energia excedente da Usina Itaipu. No entanto, o presidente do Paraguai sinalizou a intenção de renegociar o acordo para vender a energia ao país que oferecer o melhor preço.
Sem um consenso sobre o valor da energia excedente, o Paraguai se recusou a assinar o documento que permitiria a operação provisória da usina durante as negociações. Isso resultou no bloqueio das movimentações financeiras da usina desde o início do ano, como forma de pressionar o Brasil a aceitar um valor mais alto.
Falta de acordo entre os países tem consequências na conta de luz dos brasileiros
A falta de acordo entre os países tem consequências diretas na conta de luz dos consumidores brasileiros. Caso o Brasil ceda à pressão paraguaia, mesmo que em menor proporção, é esperado um aumento nas tarifas de energia, podendo representar um encarecimento de cerca de 5% na conta dos consumidores.
Apesar do impasse, as negociações entre os ministros de relações internacionais e de energia dos dois países estão em andamento. No entanto, um acordo definitivo ainda deve levar cerca de dois meses, o que preocupa a parte brasileira na produtora de energia.
A Usina Itaipu tem 14 gigawatts (GW) de potência instalada, fornecendo energia para cerca de 88% do mercado paraguaio e 9% do mercado brasileiro. A incerteza em torno das tarifas de energia da usina cria um cenário preocupante para os consumidores brasileiros, que podem enfrentar uma conta de luz mais cara nos próximos meses.
Previsões de aumento na tarifa de energia elétrica já sinalizavam desafios para os consumidores
Além da previsão de aumento na tarifa de energia elétrica devido às negociações entre Brasil e Paraguai, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) já indicava um cenário de elevação nos custos desde janeiro. No início do ano, a Aneel alertou para a expectativa de um reajuste de 5,6%, acima da inflação projetada para 2024, que é de 3,86%.
Essas previsões sinalizam um cenário desafiador para os consumidores brasileiros, que podem enfrentar uma conta de luz mais cara nos próximos meses. O contexto de encargos setoriais definidos pelo Congresso Nacional e o fim de mecanismos de alívio na conta de energia nos últimos anos contribuem para a pressão sobre os custos energéticos no país.