A disputa pelo mercado automobilístico brasileiro ganha um novo capítulo com a entrada dos carros híbridos flex. Fabio Venturelli, CEO da São Martinho, acredita que essa nova geração de veículos pode ameaçar a liderança dos carros elétricos chineses no país. A São Martinho, empresa de destaque no setor sucroenergético brasileiro, tem interesse direto no sucesso dos híbridos flex, que utilizam etanol, produto diretamente ligado à sua operação.
O embate tecnológico: Híbridos flex versus carros elétricos chineses
Em entrevista à Inteligência Financeira, Venturelli destacou que, apesar do crescimento nas vendas de carros elétricos no Brasil, esses veículos ainda enfrentam desafios significativos para conquistar uma fatia maior do mercado. A Associação Brasileira de Veículo Elétrico (Abave) projeta vendas acima de 150 mil unidades de carros elétricos em 2024, um aumento de 60% em relação a 2023, quando foram vendidas 93.927 unidades.
No entanto, Venturelli acredita que os híbridos flex, fabricados localmente, têm vantagens que podem atrair os consumidores brasileiros. Esses veículos oferecem maior autonomia, economia de combustível e melhores preços de revenda, fatores cruciais para o mercado nacional.
Análise comparativa entre híbridos flex e elétricos no Brasil
Atualmente, o interesse dos brasileiros por carros elétricos está em crescimento. Pesquisa da Ipsos Drivers, realizada em março, revela que o número de motoristas que consideram muito provável a aquisição de um veículo movido a bateria aumentou de 14% em 2023 para 16% em 2024. O mesmo estudo aponta um crescimento na intenção de compra de modelos híbridos plug-in, de 13,3% para 15,9%.
Contudo, Venturelli alerta para um possível retrocesso nas vendas de carros elétricos, observando tendências em mercados mais maduros. Dados da Associação Europeia de Fabricantes Automobilísticos (Acea) mostram que a participação de mercado de carros elétricos na União Europeia caiu de 13,9% para 13% em março de 2024, comparado ao ano anterior. Além disso, relatório do banco de investimento UBS prevê que os europeus comprarão quase nove milhões de veículos elétricos a menos entre 2024 e 2030 do que o inicialmente estimado.
Desafios dos carros elétricos
Entre os desafios enfrentados pelos carros elétricos estão o alto custo, a autonomia limitada e a infraestrutura de carregamento inadequada, fatores que afastam muitos consumidores. A recente alta nos preços dos veículos elétricos na Europa também contribuiu para a redução das expectativas de crescimento no segmento.
No Brasil, o valor de revenda dos carros elétricos é outro obstáculo. Venturelli destaca que a baixa valorização residual desses veículos pode ser um grande problema para os consumidores brasileiros. Empresas de locação de veículos, como a Unidas, têm enfrentado dificuldades para revender carros elétricos após dois anos de uso, o que as leva a reconsiderar a aquisição desses modelos.
O papel dos híbridos flex na transformação do mercado automobilístico
Enquanto isso, os híbridos flex emergem como uma alternativa atraente. Esses veículos combinam a economia do etanol com a eficiência de um motor elétrico, oferecendo uma solução mais acessível e prática para os consumidores brasileiros. Além disso, a infraestrutura existente para o etanol no Brasil é robusta, o que facilita a adoção desses veículos.
Venturelli está confiante de que os híbridos flex podem conquistar uma parcela significativa do mercado automobilístico brasileiro. Ele acredita que, com a produção local e os benefícios associados a esses veículos, os consumidores brasileiros terão uma opção mais viável e econômica em comparação com os carros elétricos.
O futuro do mercado automobilístico brasileiro está em aberto, com uma disputa acirrada entre os carros elétricos chineses e os novos híbridos flex. As vendas de veículos eletrificados no Brasil continuam a crescer, atingindo 36.090 unidades no primeiro trimestre de 2024, um aumento de 145% em relação ao mesmo período do ano anterior.
Contudo, a preferência do consumidor pode mudar com a introdução dos híbridos flex, que prometem maior autonomia, economia de combustível e melhor valor de revenda. Se a aposta de Fabio Venturelli estiver correta, esses veículos podem se tornar a escolha dominante no Brasil, superando os desafios enfrentados pelos carros elétricos e conquistando o mercado nacional. Apenas o tempo dirá qual tecnologia prevalecerá, mas é certo que a competição será intensa e benéfica para os consumidores.