Nos últimos anos, grandes mercados internacionais têm redobrado suas estratégias em torno do urânio, impulsionados pela demanda crescente por combustível nuclear. Os Estados Unidos, por exemplo, viram produtores reativarem minas em estados como Wyoming, Texas, Arizona e Utah, conforme reportagens recentes do Financial Times e Bloomberg.
Esse movimento marca uma reviravolta no mercado de urânio, que havia sofrido um declínio após o acidente nuclear de Fukushima, em 2011. No entanto, a guerra Rússia contra Ucrânia mudou o cenário, impulsionando os preços do urânio e abrindo uma “janela” de oportunidade para produtores de países ocidentais, incluindo o Brasil.
O Brasil detém a sexta maior reserva de urânio do mundo, apesar de ter interrompido as pesquisas sobre o mineral nos anos 1980. A jazida de Santa Quitéria, no Ceará, desponta como a maior reserva conhecida do país, com uma produção mínima estimada em 2.600 toneladas de urânio por ano. Atualmente, o Brasil produz cerca de 300 toneladas de urânio por ano, mas a expansão do projeto de Santa Quitéria pode aumentar essa produção em até 10 vezes.
Tomás Figueiredo Filho, advogado especialista em Mineração, destaca que o Brasil domina toda a cadeia de processamento do urânio, o que inclui a tecnologia para usinas nucleares como Angra 1 e 2, localizadas no Rio de Janeiro, e a venda do produto para abastecer usinas termonucleares em países como a Argentina.
Com previsão de investimentos superiores a R$ 2 bilhões, o complexo mineroindustrial de Santa Quitéria deverá gerar 8 mil empregos durante as obras de construção. Estima-se que a produção anual alcance 2,3 mil toneladas de urânio em seu estado natural, o que representa uma parcela significativa da produção total do empreendimento. Além do urânio, a maior parte da extração será destinada à produção de fertilizantes fosfatados e fosfato bicálcico, contribuindo para a diversificação da produção.
Em outubro do ano passado, o projeto de Santa Quitéria recebeu autorização da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) para a instalação da jazida, após um rigoroso processo de avaliação de segurança e proteção radiológica. O empreendimento também está em fase de licenciamento prévio junto ao Ibama, com estudos complementares entregues em dezembro de 2023.
Após cinco anos sem enviar concentrados de urânio para o exterior, a atual gestão das Indústrias Nucleares do Brasil (INB) planeja abrir licitação internacional, em abril, para a contratação da empresa responsável pela conversão do material. Essa medida visa eliminar a necessidade de importar o produto, fortalecendo a posição do Brasil como fornecedor confiável de urânio e consolidando sua participação no mercado internacional de energia nuclear.
A retomada do mercado de urânio representa uma oportunidade estratégica para o Brasil, que, com seus recursos naturais abundantes e expertise tecnológica, pode se posicionar como um importante player global na produção e exportação de urânio, contribuindo para a transição energética e a segurança energética global.
O urânio é um elemento químico pertencente à família dos actinídeos, conhecido por sua importância na indústria nuclear. Sua principal aplicação está na geração de energia elétrica em usinas nucleares, onde é utilizado como combustível para produzir calor através da fissão nuclear. Esse calor é então usado para gerar vapor, que movimenta turbinas conectadas a geradores de eletricidade.
O urânio também é empregado na fabricação de armas nucleares, embora seu uso nesse contexto seja altamente regulamentado. Outras aplicações incluem a utilização em dispositivos médicos, como radioterapia para tratamento de câncer, e em técnicas de datação radiométrica em geologia e arqueologia.
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