Em meio às águas turbulentas e às correntezas poderosas da foz do Amazonas, uma nova ameaça ambiental se desenha. A Petrobras, com o apoio de parte do governo, tem insistido na exploração de combustíveis fósseis na região, apesar das advertências científicas e ambientais evidentes da possibilidade de um vazamento de petróleo na foz do Amazonas. Recentemente, a companhia solicitou ao IBAMA a reconsideração de uma licença para perfurar o poço no bloco FZA-M-59, situado a aproximadamente 160 km de Oiapoque, no litoral do Amapá.
Estudo do IEPA e Greenpeace Brasil revela riscos críticos
A bordo do veleiro Witness, do Greenpeace Brasil, pesquisadores do Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá (IEPA) conduziram um estudo focado em mapear as correntes marítimas da área. A pesquisa, ainda em fase de conclusão, reitera preocupações anteriores: um vazamento de petróleo poderia não apenas contaminar a própria foz, mas também se espalhar por centenas de quilômetros, afetando as costas da Guiana Francesa, do Suriname e da Guiana.
Para simular os efeitos de um possível vazamento de petróleo na foz do Amazonas, foram lançados ao mar sete derivadores, dispositivos que transmitem a geolocalização em tempo real e captam dados ambientais. Surpreendentemente, cinco desses equipamentos atravessaram águas internacionais, com um deles chegando a percorrer mais de 1.500 km.
Especialista afirma que vazamento de petróleo na foz do Amazonas causaria dispersão massiva
Marcelo Laterman, coordenador da frente de Oceanos do Greenpeace Brasil, ressalta que a foz do Amazonas apresenta correntes marítimas e costeiras intensas, cuja dinâmica é ainda pouco conhecida. “Um vazamento de petróleo nesta região causaria uma dispersão massiva, tornando o controle e a contenção extremamente desafiadores”, afirma Laterman. Além disso, a exploração petrolífera ameaça diretamente a vida marinha e as populações costeiras, que dependem da saúde ambiental da região para subsistência e atividades econômicas.
A história de exploração petrolífera na foz do Amazonas é marcada por falhas e desafios. Dos 95 poços já perfurados, 31 foram abandonados devido a dificuldades operacionais, e a maioria dos poços bem-sucedidos se mostrou seca ou com reservas subcomerciais. O último esforço ocorreu em 2011, quando a própria Petrobras suspendeu a perfuração por conta das fortes correntezas.
Resistência científica e civil cresce
Conforme a pressão por mais explorações de combustíveis fósseis cresce, também aumenta a resistência de cientistas e organizações civis. Essa oposição ganhou ainda mais força após tragédias recentes relacionadas às mudanças climáticas, como o desastre ocorrido no Rio Grande do Sul. Thiago Longo, coordenador-geral de mudanças do clima do Ministério do Meio Ambiente (MMA), defende que nenhuma autorização para novas perfurações seja concedida até pelo menos a COP30, prevista para novembro de 2025.
O adiamento das licenças de perfuração é apenas um primeiro passo para enfrentar o desafio maior de transição energética global. O Brasil, sob a liderança do presidente Lula, busca uma posição de destaque na agenda climática mundial, mas o caminho passa inevitavelmente pela redução gradual dos combustíveis fósseis. A foz do Amazonas, com sua rica biodiversidade e importância socioeconômica, representa um teste crítico para o compromisso ambiental do país no cenário global.
Riscos ambientais de um derramamento de petróleo
Um vazamento de petróleo na foz do Amazonas traz consigo uma série de riscos ambientais devastadores. A complexidade das correntes marítimas nesta região pode levar a uma dispersão rápida e ampla do óleo, afetando ecossistemas marinhos críticos, como recifes de coral, manguezais e bancos de algas, essenciais para a biodiversidade marinha.
O petróleo derramado pode causar a morte de espécies endêmicas e migratórias, comprometendo a cadeia alimentar marinha. A contaminação das águas também pode resultar em longos períodos de toxidade que afetariam a reprodução e a sobrevivência de várias espécies, causando danos irreparáveis ao equilíbrio ecológico.
Impactos socioeconômicos de desastres petrolíferos
Além dos danos ecológicos, os impactos socioeconômicos de um vazamento de petróleo são igualmente alarmantes. Comunidades costeiras que dependem do mar para sua subsistência, como pescadores, enfrentariam graves prejuízos econômicos.
A contaminação de áreas de pesca pode levar à escassez de recursos pesqueiros, redução da atividade pesqueira e perda de renda para milhares de famílias. Ademais, o turismo, atividade vital para a economia de muitas regiões costeiras, sofreria um duro golpe, com a possível rejeição de áreas turísticas outrora populares devido à poluição e ao visual desagradável das águas contaminadas e praias sujas.