A sustentabilidade é um dos temas mais debatidos no setor de aviação, especialmente com o aumento da busca por fontes de energia alternativas e mais limpas. Nesse contexto, empresas brasileiras como Acelen e Raízen têm se destacado ao defender o uso de biomassa local como matéria-prima essencial para a produção de combustível sustentável de aviação (SAF, na sigla em inglês).
Durante o Brazil Climate Summit, realizado em Nova York, as duas empresas apresentaram suas iniciativas e os impactos positivos que esperam alcançar com o desenvolvimento do SAF. O objetivo principal é atender às demandas do setor aéreo global, que busca reduzir drasticamente suas emissões de carbono.
A Raízen, uma das maiores produtoras de energia a partir de biomassa no Brasil, tem avançado na produção de SAF utilizando o etanol de cana-de-açúcar. Paula Kovarsky, vice-presidente de estratégia da empresa, destacou no evento que a Raízen foi pioneira na qualificação do etanol para o Corsia, um esquema internacional de compensação e redução de carbono na aviação.
O método utilizado pela Raízen é chamado “alcohol-to-jet” (ATJ), que transforma o etanol em combustível de aviação. Kovarsky ressaltou que essa abordagem tem a vantagem de usar menos terra em comparação com outras rotas de produção de SAF, como a que utiliza ácidos graxos e ésteres hidroprocessados (HEFA). “O etanol de cana-de-açúcar é rastreável e sua produção tem um impacto reduzido no uso da terra, em comparação com outras culturas energéticas”, afirmou Kovarsky.
Ela também destacou que a cana-de-açúcar representa apenas 1% da área agrícola do Brasil, mas responde por 20% da matriz energética do país, demonstrando a eficiência da produção. Além disso, a executiva frisou a importância de mecanismos que reconheçam a sustentabilidade do etanol brasileiro em comparação a combustíveis fósseis e a necessidade de ampliar o reconhecimento global dessa vantagem competitiva.
A Acelen, por sua vez, está desenvolvendo uma biorrefinaria que utilizará a macaúba, uma palmeira nativa do Brasil, para produzir SAF. Yuri Orse, diretor da cadeia de renováveis da Acelen, destacou que a escolha pela macaúba não é apenas uma opção sustentável, mas também uma forma de recuperar solos degradados, uma questão ambiental importante no país.
A empresa está focada em utilizar grandes áreas de pastagens degradadas na Bahia para o cultivo da macaúba, promovendo assim um ciclo de recuperação do solo e produção de combustível. Orse ressaltou que, com essa iniciativa, a Acelen espera gerar “emissões negativas”, ou seja, compensar mais emissões de carbono do que as geradas durante o processo de produção. “Estima-se que essa estratégia pode compensar até 60 milhões de toneladas de CO₂, que podem ser transformadas em créditos de carbono”, afirmou o executivo.
Com planos, a Acelen projeta que até 2027 estará produzindo 1 bilhão de litros de SAF, quantidade equivalente à demanda doméstica prevista no Brasil para 2037. Diante dessa capacidade, a empresa pretende também expandir suas operações para mercados internacionais, principalmente os Estados Unidos, que têm se mostrado um dos maiores interessados em combustíveis de baixa emissão.
Tanto a Acelen quanto a Raízen concordam que o mercado de carbono será essencial para viabilizar a expansão da produção de SAF no Brasil. Paula Kovarsky, da Raízen, defendeu que um sistema de créditos de carbono transfronteiriço poderia ser um mecanismo viável para garantir a competitividade do etanol brasileiro e outras matérias-primas sustentáveis no cenário internacional.
O Brasil, apesar de não contar com subsídios robustos para projetos de SAF, como os disponíveis nos Estados Unidos por meio da Lei de Redução da Inflação (IRA, na sigla em inglês), possui uma vantagem importante: a baixa intensidade de carbono de sua produção. Por isso, a criação de um sistema global de reconhecimento dessas iniciativas sustentáveis poderia alavancar o setor no país.
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