Nos últimos cinco anos, o mercado de carros elétricos e híbridos no Brasil experimentou um crescimento impressionante de quase 1.400%, transformando essa categoria de veículos em uma parte significativa das vendas automobilísticas no país. Embora seja importante considerar que o início dessa tendência partiu de uma base modesta, carros elétricos e híbridos já correspondem a quase 5% das vendas totais de veículos de passeio no Brasil. Há um ano, em setembro de 2022, esse número era de apenas 2,4%.
As montadoras chinesas BYD e GWM são uma das principais causas para a expansão de carros elétricos no Brasil
O aumento surpreendente nas vendas e a crescente diversificação de modelos “eletrificados” se devem, em grande parte, ao investimento substancial das montadoras chinesas BYD e GWM no mercado brasileiro. “Elas têm produtos bem-posicionados, além de boas estratégias de marketing e planejamento”, afirma Milad Kalume Neto, diretor da consultoria automotiva Jato Brasil. “A GWM montou uma equipe que conhece muito bem o mercado nacional, e a BYD está no país desde o começo dos anos 2010, focando inicialmente em veículos pesados, como ônibus e caminhões, mas com olhos no setor de carros leves.”
Cassio Pagliarini, da Bright Consulting, especializada na indústria automotiva, destaca o crescimento expressivo nas vendas dos veículos dessas montadoras chinesas nos últimos meses, afirmando que “elas vieram com vontade para conquistar o mercado” e que “os carros dessas marcas estão conquistando as primeiras posições em todas as categorias nas quais estão presentes”.
Segundo dados da Bright Consulting, o Dolphin da BYD lidera a lista de veículos 100% elétricos mais vendidos no ano, mesmo tendo sido lançado em junho. A empresa importou 3 mil unidades do modelo no mês seguinte, tornando-o o elétrico mais vendido do país. As vendas nos primeiros dez dias de agosto aumentaram 112% em relação a julho.
Já a GWM viu seu veículo Haval H6, com preço a partir de R$ 214 mil, ocupar o topo das vendas entre os híbridos plug-in (que combinam motores a combustão e elétrico). O sucesso das montadoras chinesas se deve em parte aos preços competitivos de seus veículos. “Dentro do segmento de elétricos e híbridos, os preços dessas montadoras chinesas são tão competitivos que elas devem estar vendendo carros com um lucro muito pequeno, ou mesmo, sem lucro para conquistar o mercado”, observa Pagliarini.
Apesar do aumento nas vendas, as companhias ainda enfrentam muitos desafios
A competitividade das chinesas impactou o mercado, levando outras montadoras a reduzirem o valor de seus carros, resultando no “efeito Dolphin”. Além disso, GWM e BYD estão demonstrando capacidade para ampliar as vendas, com a GWM investindo R$ 10 bilhões no Brasil em um período de dez anos e planejando produzir carros em sua fábrica em Iracemápolis a partir de maio de 2024.
BYD, por sua vez, mantém três fábricas no país, produzindo chassis de ônibus elétricos, módulos fotovoltaicos para energia solar e baterias. A empresa também adquiriu uma antiga fábrica da Ford na Bahia, onde planeja investir R$ 3 bilhões em um complexo industrial para a produção de automóveis elétricos e híbridos, caminhões e ônibus elétricos, e beneficiamento de lítio para uso em baterias. Enquanto a GWM inovou no canal de comercialização com o serviço de entrega de veículos em parceria com o Mercado Livre, a BYD está posicionada como uma das três maiores fabricantes de baterias do mundo.
No entanto, o mercado de carros elétricos ainda enfrenta desafios no Brasil, incluindo a falta de infraestrutura, como a escassez de eletropostos para recarga. Um estudo da Jato Brasil revelou que o país está 15 vezes defasado em relação à Estônia em termos de postos de abastecimento. Além disso, a tributação desses veículos é uma variável que pode influenciar seu crescimento no mercado. Atualmente, os carros elétricos estão isentos do imposto de importação, o que pode mudar no futuro.